Quando esbarro nos media com esta gentalha amarelenta e escuto frases exclusivas – «força, força colégio, colégio. (…) Cá não há misturas é tudo boa gente» – com grafias denunciadoras de outros intentos – «em nome do meu, filho» – fico revoltado e ao mesmo tempo divertido. Reassumo a essência da minha rebelião contra as gentes privilegiadas que contribuíram para a minha (extensível à generalidade da população) segregação económica, social e cultural – um rico gera sempre milhares de pobres. Não tenho pejo em defender a escola pública para todos, a saúde pública para todos, a justiça pública para todos, a segurança social pública para todos e a economia pública para todos, apesar de não estar na moda ou ser politicamente comprometedor, assumo a defesa de uma sociedade verdadeiramente socialista ou mesmo anarquista no sentido em que o bem comum resultaria da conjugação dos interesses de cada um dos indivíduos.
A diversão com estas manifestações amarelas é amarga porque me recorda a existência (para mim inexplicável) do «colégio do padre» associado aos meninos das gentes não proletárias da cidade de Silves, das fardas falsamente igualitárias de variados tecidos e adornos que nos obrigam a vestir na escola, no trabalho, na sociedade e na vida. Sempre fui feliz nas escolas de todos, desde da 1.ª classe até ao 12.º ano, em Silves, na universidade, em Coimbra. Apesar de trabalhar desde os 12 anos, a minha única profissão é ser professor, em escolas secundárias públicas, na universidade pública do Algarve.
Por mim todo o ensino, desde o pré-escolar até ao ensino superior era exclusivamente público, nesse aspeto sou e sempre fui radical, talvez anarquista. Admito a existência de entidades cooperativas e associativas no campo da educação, especialmente quando não existe oferta pública suficiente (para mim inconcebível) como no caso da educação pré-escolar, mas rejeito a ideia do «direito de ensinar» para justificar os negócios de milhões destes colégios ou das universidades privadas. Negócio é negócio, mas meios públicos ao serviço dos privados são as tais gorduras do Estado que é urgente eliminar. Eliminar estes negócios na educação, na saúde, na justiça, na segurança social, na economia, na finança, em todos os setores da sociedade portuguesa.
Mas estas manifestações amarelas também denunciam uma educação sem inclusão de rebeldias económicas e sociais, sem inclusão das crianças e jovens com deficiência, sem lugar para os jovens diferentes. A escola só pode ser integradora e multicultural, não há ponto nem ponto e vírgula.
Os excessos do ensino privado devem ser pagos pelos pais e não pelo país. Todos queremos o melhor para todos, o Estado deve investir os milhões poupados com os privados no ensino público (parece que metade da verba é suficiente para tornar gratuitos todos os manuais escolares do 1.º ciclo do ensino básico) e garantir a melhor escola possível para todas as crianças, todos os jovens e todos os cidadãos deste país.
A escolha do amarelo terá alguma coisa a ver com as cores amarelo e branco da bandeira do Vaticano? Acredito que é apenas o amarelo da Opus Dei.