Mulheres Presentes:
LISETE MARTINS: Mulher Presente, natural do Mouricão ( Messines), tem sido uma das figuras culturais da terra, e da maior notoriedade.
Mulher de coragem e força, naturalmente decisivas em erguer um grupo de naturais e avançar para essa arte de tantos adjetivos, de tantos criadores, que é o Teatro.
Conheci D. Lisete Martins, pela primeira vez em Faro (1987), no Teatro Lethes, o terceiro teatro mais antigo de Portugal. Lisete Martins e as Mulheres do “Penedo Grande” estavam na capital do Sul, com o trágico andaluz Garcia Lorca: “ A Casa de Bernarda Alba”. Eu tinha acabado de chegar, a Faro, na situação da minha vida de emigrante ( de para cá e para lá). Não quero perder o Lethes. E, surpresa, Mulheres da minha Terra, em teatro. Indo recuperar aqueles sons de suspiro, tão arrastados e ausentes de mim. Havia décadas que não visitava a minha terra de Messines. Recuperei-a nessa noite, em Faro e em continuidade.
Gostei, admirei aquele Grupo, ali iniciado e já parecendo tão maduro. Não assisti à maioria das representações do “Penedo Grande” mas, a partir dessa noite, não mais abandonei o Grupo de Teatro da minha Terra.
Em Junho de 1993, o “Penedo Grande” recupera o texto de Manuel Teixeira Gomes, “Sabina Freire”, representado em Messines, na Sociedade de Messines. No Verão desse ano, “Sabina Freire” vem a Faro, actuam no grande auditório do Conservatório Maria Campina. Foi o segundo espectáculo do Grupo Penedo Grande a que assisto. A partir de então fico “preso” ao Grupo e ao desempenho de Dona Lisete, em Maria Freire, numa recriação notável, onde o descendente (neto) de Teixeira Gomes, presente, deixou o registo familiar à Senhora de Messines e seus acompanhantes.
A peça que se segue, “Vitória nas Amendoeiras” ( 1994) foi uma estreia mundial, estreada no Castelo de Silves. Esteve em cena mais de um ano. Percorreu o país de lés-a-lés. Passando por Lisboa, no Auditório das Forças Armadas. Foi um teatro de denúncia-regional.
Muitas outras se seguiram…
24 de Abril de 1993
A homenagem a Lisete Martins. Pela Secretaria de Estado da Cultura, em Faro. Iniciava-se numa entrevista, na Rádio Difusão Portuguesa/Algarve. Estamos no dia 24 de Abril de 1993. Nesse sábado, a Senhora do “Penedo Grande” está na Antena 1- R.D.P. ( no tempo em que tínhamos antena aberta, durante quase todo o dia). Assunto: Homenagem ao Teatro Regional do Algarve.
Aguardávamos que a Messinense chegasse aos Estúdios de Faro. Acertámos as palavras de abertura. O resto viria no desenvolvimento da entrevista. Tempo para escolher o fundo musical para ilustrar o programa de duas horas. E D. Lisete sem chegar! O realizador indica que o programa vai ter início.
O Locutor de serviço entra na pergunta, dirigindo-se-me, como responsável pelo evento da Grande Exposição do Teatro no Algarve. O que é o Teatro? Vá, senhor ouvinte, hoje à tarde, ao Conservatório Maria Campina, à descoberta do Teatro, em exposição regional. Vá ao encontro de uma Senhora que tem a arte viva em si, Lisete Martins Piçarra, espera-vos, para um diálogo. O realizador mete música. Entretanto, Lisete chega afogueada. A 125 está um pandemónio… Agora não sei o que dizer. Desabafa. O realizador dá sinal para recomeçar.
O locutor de serviço, habituado às entrevistas de desporto, pergunta:
A Senhora, é hoje, uma mulher feliz?
–Só hoje? O Teatro tem em si, a fonética Amor! Que nós somos Teatro Am (ad) or…
O locutor produz uma pequena gargalhada. Muito bem! Lisete recomeça: Amador é logicamente, gostar… Todos os dias. Hoje, os meus camaradas recebem um estímulo! Isso é gratificante. Desde a minha entrega ao Teatro, tanto eu como todo o Grupo, vestimos as personagens e despimo-las, à medida das nossas representações fictícias e reais. Temos as nossas vidas duplas, e sabemos viver nelas. Desde a minha entrega ao Teatro, que apelo para momentos de felicidade teatral. É certo que temos de representar a vida, tal ela é. Somos convictos, à medida que avançamos, que somos pequeninos, para a nossa “ambição” de armar a tenda, criar cenografias, luzes, adereços… Tanto que sabemos que o teatro nos exige. Temos de ter essa consciência.
O que devo perguntar, mais, D. Lisete? Vamos falar francamente das vidas, de todos nós. Isso é a “comédia da vida”. Também o drama do nosso viver… E à medida, um pouco de teatro. Verá a diferença da duplicidade… assim são as nossas vidas, encarando tudo na normalidade. Mesmo representando, somos naturais. É essa a nossa exigência: despirmos as nossas vidas reais e entregamo-nos à força trágica, dramática… à comédia exigida. Que são as máscaras do Teatro.
Na tarde desse dia 24 de Abril, no edifício do Conservatório Regional do Algarve – Maria Campina, e na sala que honra a memória da excelsa pianista, realizou-se a homenagem à Senhora do Teatro, Lisete Martins. Muitos amigos, gente de Messines, o representante da Cultura, em Faro, o Governador Civil ( em mensagem), o Director do Conservatório de Música, Pedro Ruivo, prestaram homenagem à Senhora que tem “vestido” tantas personagens, que são vida à vida, pelas representações, nessas capacidades de recriações. Depois, passámos à maior Exposição de Teatro Amador, em que todo o Algarve esteve presente.
Pessoalmente, tenho convivido com Lisete, uma Senhora da minha maior admiração. Mulher solidária. Camarada em todo o sentido fraternal. Mulher que sempre ocultou o lado negativo da vida, dores, sofrimentos e lutos.
Dona Lisete tem levado, por serra e barrocal, por Alentejo, Beiras e demais espaços, as palavras dos Autores, as emoções, as alegrias, os dramas, a poesia, as esperanças, as comunicações.
A Senhora é uma Mulher ilustre da nossa terra de Messines. Bem-haja! Foram as palavras do Governador Civil de Faro.
Por fim, a autoridade Cultural do Algarve encerrou as homenagens à Senhora do Teatro e do “Grupo de Teatro Penedo Grande”: Hoje, nesta homenagem que a Secretaria de Estado da Cultura de Portugal dedica à responsável do “Grupo de Teatro Penedo Grande”, D. Lisete Martins, fica a Senhora com maior responsabilidade da continuidade à Cultura da sua terra, o Algarve e o País, pelas comunidades por onde o seu teatro for itinerante.