Mulheres da Minha Terra (12) Mulheres Presentes

Mulheres Presentes:

LISETE MARTINS: Mulher Presente, natural do Mouricão ( Messines), tem sido uma das figuras culturais da terra, e da maior notoriedade.
Mulher de coragem e força, naturalmente decisivas em erguer um grupo de naturais e avançar para essa arte de tantos adjetivos, de tantos criadores, que é o Teatro.

Lisete Martins, no seu trabalho mais recente, "Sabina Freire", na companhia Al Teatro
Lisete Martins, no seu trabalho mais recente, “Sabina Freire”, na companhia Al Teatro

Conheci D. Lisete Martins, pela primeira vez em Faro (1987), no Teatro Lethes, o terceiro teatro mais antigo de Portugal. Lisete Martins e as Mulheres do “Penedo Grande” estavam na capital do Sul, com o trágico andaluz Garcia Lorca: “ A Casa de Bernarda Alba”. Eu tinha acabado de chegar, a Faro, na situação da minha vida de emigrante ( de para cá e para lá). Não quero perder o Lethes. E, surpresa, Mulheres da minha Terra, em teatro. Indo recuperar aqueles sons de suspiro, tão arrastados e ausentes de mim. Havia décadas que não visitava a minha terra de Messines. Recuperei-a nessa noite, em Faro e em continuidade.

Gostei, admirei aquele Grupo, ali iniciado e já parecendo tão maduro. Não assisti à maioria das representações do “Penedo Grande” mas, a partir dessa noite, não mais abandonei o Grupo de Teatro da minha Terra.

Em Junho de 1993, o “Penedo Grande” recupera o texto de Manuel Teixeira Gomes, “Sabina Freire”, representado em Messines, na Sociedade de Messines. No Verão desse ano, “Sabina Freire” vem a Faro, actuam no grande auditório do Conservatório Maria Campina. Foi o segundo espectáculo do Grupo Penedo Grande a que assisto. A partir de então fico “preso” ao Grupo e ao desempenho de Dona Lisete, em Maria Freire, numa recriação notável, onde o descendente (neto) de Teixeira Gomes, presente, deixou o registo familiar à Senhora de Messines e seus acompanhantes.

 

 

 

A peça que se segue, “Vitória nas Amendoeiras” ( 1994) foi uma estreia mundial, estreada no Castelo de Silves. Esteve em cena mais de um ano. Percorreu o país de lés-a-lés. Passando por Lisboa, no Auditório das Forças Armadas. Foi um teatro de denúncia-regional.
Muitas outras se seguiram…

24 de Abril de 1993
A homenagem a Lisete Martins. Pela Secretaria de Estado da Cultura, em Faro. Iniciava-se numa entrevista, na Rádio Difusão Portuguesa/Algarve. Estamos no dia 24 de Abril de 1993. Nesse sábado, a Senhora do “Penedo Grande” está na Antena 1- R.D.P. ( no tempo em que tínhamos antena aberta, durante quase todo o dia). Assunto: Homenagem ao Teatro Regional do Algarve.
Aguardávamos que a Messinense chegasse aos Estúdios de Faro. Acertámos as palavras de abertura. O resto viria no desenvolvimento da entrevista. Tempo para escolher o fundo musical para ilustrar o programa de duas horas. E D. Lisete sem chegar! O realizador indica que o programa vai ter início.

O Locutor de serviço entra na pergunta, dirigindo-se-me, como responsável pelo evento da Grande Exposição do Teatro no Algarve. O que é o Teatro? Vá, senhor ouvinte, hoje à tarde, ao Conservatório Maria Campina, à descoberta do Teatro, em exposição regional. Vá ao encontro de uma Senhora que tem a arte viva em si, Lisete Martins Piçarra, espera-vos, para um diálogo. O realizador mete música. Entretanto, Lisete chega afogueada. A 125 está um pandemónio… Agora não sei o que dizer. Desabafa. O realizador dá sinal para recomeçar.
O locutor de serviço, habituado às entrevistas de desporto, pergunta:
A Senhora, é hoje, uma mulher feliz?
Só hoje? O Teatro tem em si, a fonética Amor! Que nós somos Teatro Am (ad) or…

O locutor produz uma pequena gargalhada. Muito bem! Lisete recomeça: Amador é logicamente, gostar… Todos os dias. Hoje, os meus camaradas recebem um estímulo! Isso é gratificante. Desde a minha entrega ao Teatro, tanto eu como todo o Grupo, vestimos as personagens e despimo-las, à medida das nossas representações fictícias e reais. Temos as nossas vidas duplas, e sabemos viver nelas. Desde a minha entrega ao Teatro, que apelo para momentos de felicidade teatral. É certo que temos de representar a vida, tal ela é. Somos convictos, à medida que avançamos, que somos pequeninos, para a nossa “ambição” de armar a tenda, criar cenografias, luzes, adereços… Tanto que sabemos que o teatro nos exige. Temos de ter essa consciência.

O que devo perguntar, mais, D. Lisete? Vamos falar francamente das vidas, de todos nós. Isso é a “comédia da vida”. Também o drama do nosso viver… E à medida, um pouco de teatro. Verá a diferença da duplicidade… assim são as nossas vidas, encarando tudo na normalidade. Mesmo representando, somos naturais. É essa a nossa exigência: despirmos as nossas vidas reais e entregamo-nos à força trágica, dramática… à comédia exigida. Que são as máscaras do Teatro.

Na tarde desse dia 24 de Abril, no edifício do Conservatório Regional do Algarve – Maria Campina, e na sala que honra a memória da excelsa pianista, realizou-se a homenagem à Senhora do Teatro, Lisete Martins. Muitos amigos, gente de Messines, o representante da Cultura, em Faro, o Governador Civil ( em mensagem), o Director do Conservatório de Música, Pedro Ruivo, prestaram homenagem à Senhora que tem “vestido” tantas personagens, que são vida à vida, pelas representações, nessas capacidades de recriações. Depois, passámos à maior Exposição de Teatro Amador, em que todo o Algarve esteve presente.

Pessoalmente, tenho convivido com Lisete, uma Senhora da minha maior admiração. Mulher solidária. Camarada em todo o sentido fraternal. Mulher que sempre ocultou o lado negativo da vida, dores, sofrimentos e lutos.
Dona Lisete tem levado, por serra e barrocal, por Alentejo, Beiras e demais espaços, as palavras dos Autores, as emoções, as alegrias, os dramas, a poesia, as esperanças, as comunicações.
A Senhora é uma Mulher ilustre da nossa terra de Messines. Bem-haja! Foram as palavras do Governador Civil de Faro.
Por fim, a autoridade Cultural do Algarve encerrou as homenagens à Senhora do Teatro e do “Grupo de Teatro Penedo Grande”: Hoje, nesta homenagem que a Secretaria de Estado da Cultura de Portugal dedica à responsável do “Grupo de Teatro Penedo Grande”, D. Lisete Martins, fica a Senhora com maior responsabilidade da continuidade à Cultura da sua terra, o Algarve e o País, pelas comunidades por onde o seu teatro for itinerante.

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