Ao assumir um elevado código moral da esquerda, tenho erradamente assumido como natural e desculpável a prática de crimes económicos, sociais e políticos da direita. Com a força da superioridade moral da esquerda, condeno duplamente os seus ilícitos e absolvo com crescente indiferença os ilícitos da direita. Algo está duplamente errado, os crimes económicos, sociais e políticos devem ser exemplarmente punidos, com consequências pessoais e politicas dos protagonistas sejam eles (ou elas) da esquerda ou da direita.
O furor da condenação criminal da esquerda e da desculpabilização inconsciente da direita não é só uma característica típica das gentes de esquerda, mas também uma prática consciente da direita, assumindo ela própria a sua natureza enganosa da política. Dou por mim a indagar «Como é possível um político de esquerda emaranhar-se num qualquer negócio ilegal?» ao mesmo tempo que «Já estava à espera que o político de direita fizesse tudo para deixar prescrever o processo em que está envolvido e não arcar com as culpas criminais e políticas!». São destas duas maneiras que abordo a política, condeno duplamente os homens e as mulheres de esquerda e absolvo (dada a sua natureza de rapina) os homens e as mulheres de direita. Não está correto! Têm de ser igualmente condenados ou glorificados, sejam de esquerda ou de direita, em função das suas ações políticas, económicas e sociais.
Esta deformação na condenação gera em mim outro tipo de avaliação, quando alguém dito de esquerda ou enquadrado num partido à esquerda na dispersão política democrática (todo o espetro parlamentar), eterniza-se num cargo público, mesmo na oposição, só para manter e expandir os seus negócios pessoais, desconhecendo-se qualquer significativa ação política, esse homem ou essa mulher, para mim, é de direita, mesmo à sombra dos símbolos políticos da esquerda. Neste caso, isolo os imaculados na esquerda e transporto os maculados para a direita. Outro erro crasso. Existe certamente gente pura na direita (apesar de defenderem uma sociedade distante da minha perspetiva e posicionarem-se noutras geografias nas questões fraturantes da sociedade) e gente impura na esquerda (mesmo idealizando uma sociedade sem notórias desigualdades).
Estou falando das pessoas simples (supostamente de esquerda) que se aproveitam de informação privilegiada ou de contactos especiais para engrandecer o seu património económico, para manipular os coletivos dos homens e mulheres bons que genuinamente acreditam numa sociedade socialista. Falo igualmente das mulheres e dos homens que acreditando no desenvolvimento a partir do indivíduo (rejeitando a dinâmica coletiva que eu abraço) mantêm um crer dos primeiros cristãos (espero criticando a caridadezinha) e lutam genuinamente pelo progresso social.
Refleti sobre o que me disseste Jorge R! Existe gente cristalina na esquerda e na direita, existe gente criminosa em ambos os lados. A minha esquerda ingénua ainda acredita na dignidade económica, social e cultural das gentes e dos povos.