Glisofato – o herbicida perigoso, discutido em Messines

O glifosato, o herbicida mais vendido em Portugal e sobre o qual recai a suspeita de ser “potencialmente cancerígeno” foi o tema de uma sessão de esclarecimento e de debate que decorreu na Junta de Freguesia de Messines, organizada pelo Bloco de Esquerda.

O deputado João Vasconcelos e Carlos Cabrita, do BE, na sessão em Messines
O deputado João Vasconcelos e Carlos Cabrita, do BE, na sessão em Messines

 

Presente nesta sessão esteve o deputado do BE eleito pelo Algarve, João Vasconcelos, que revelou os dados de um inquérito às câmaras municipais do país, questionando a utilização do glifosato nos espaços públicos.

 

Dos municípios inquiridos apenas tinham obtido a resposta de 107, sendo que 89 responderam afirmativamente e 18 negaram o seu uso. Do Algarve chegaram as respostas de apenas quatro câmaras municipais: Silves que consome 600 litros/ ano; Portimão- 1800 litros/ano; Castro Marim- 350 litros/ano; S. Brás de Alportel- 60 litros/ano.

Além de não serem conhecidas as respostas das restantes câmaras não se sabe igualmente qual a atuação das juntas de freguesia do país, sabendo-se que também elas usam herbicidas no combate às ervas.

O glifosato na saúde humana

Teresa Rodrigues, da Plataforma Transgénicos Fora do Prato, traçou o percurso histórico do glifosato, desde o seu aparecimento, nos anos 70 do século XX, quando foi inventado pela multinacional americana Monsanto.
É um herbicida total, não seletivo, com um custo acessível, que é comercializado por dezenas de marcas ( mais de 20 em Portugal), sendo a mais conhecida com o nome Roundup. O glifosato é o herbicida “mais vendido em todo o mundo e o 2º químico mais aplicado em toda a agricultura”, calculando-se que sejam usadas “825.000 toneladas por ano, no mundo inteiro”.
Nos últimos anos, explicou Teresa Rodrigues, várias associações começaram a questionar o uso intensivo deste produto que ainda persiste “ a 50% ao fim de 52 dias; e a 25% ao fim de três meses e meio”. Têm sido feitos estudos com o objetivo de avaliar o impacto do herbicida na saúde humana e o mesmo foi detetado, na Alemanha, “na urina de alemães citadinos e no leite materno”.
Foi dito nesta sessão que não existiam estudos em Portugal, mas, alguns dias depois a RTP 1 passou uma reportagem com o título “Erva Daninha” onde apresentava um estudo realizado com 26 voluntários portugueses, das regiões Norte e Centro do País. Todos os voluntários acusavam a presença do glifosato na urina, sendo que a concentração média foi de 26,2 mg/l por pessoa, cerca de 20 vezes superior às que foram encontradas nos cidadãos alemães.
Sabe-se também que em Portugal os agricultores apresentam elevados índices de um cancro no sangue, que se admite que pode estar relacionados com o uso deste herbicida e que “isso devia preocupar”.
Sobre a questão da investigação, Teresa Rodrigues destacou ainda um dado importante e perturbador: que existe muito pouca investigação independente sobre o assunto e que os estudos existentes “são fornecidos pela própria indústria”.
O assunto já chegou ao Parlamento Europeu, tendo sido discutido em abril deste ano, sendo que a Comissão Europeia foi exortada a não renovar a licença do glifosato, o que não aconteceu, pois que a licença foi renovada por mais sete anos.
Também no parlamento nacional, a questão da proibição do glifosato foi apresentada há poucos dias, tendo sido chumbadas as propostas apresentadas nesse sentido pelo Bloco de Esquerda, PAN e Verdes, com os votos contra do PSD e CDS e a abstenção do PS.
Foram também públicas as declarações do Bastonário da Ordem dos Médicos que defendeu a suspensão do glifosato “ em todo o mundo e já”.
Uma das questões preocupantes que rodeiam o uso do glifosato na agricultura tem a ver os alimentos transgénicos que são resistentes a este herbicida. Isso faz com que este seja muito utilizado, porque uma plantação transgénica ( como milho e soja) pode ser pulverizada à vontade que apenas morrem as ervas.
Estas culturas são usadas não só em vários alimentos que consumimos, como também em rações para animais. Animais que são comidas pela maioria da população…

Alternativas
O representante da Quercus, Fernando Dias, falou da campanha que esta associação ambientalista tem a decorrer “Campanha Contra Herbicidas em Espaços Públicos”, defendendo que as autarquias e as entidades públicas deveriam “dar o exemplo”, abolindo a utilização dos herbicidas.
Foram apresentadas algumas alternativas, como a monda térmica ( através de um queimador), a roçadora, o abafamento e cobertura, embora os presentes admitissem a dificuldade de fazer o trabalho necessário nos espaços públicos ( passeios, jardins, parques) apenas recorrendo a estes meios. Um dos participantes, com funções nesta área numa câmara algarvia, afirmou mesmo que “enquanto a população não estiver recetiva a ter uma rotunda com ervas não há solução”, acrescentando que “todos os dias temos reclamações por causa de ervas” e que para usar as referidas alternativas seria necessária a contratação de muitos mais funcionários, uma possibilidade que as autarquias não dispõem.
Já o arquiteto Fernando Pessoa defendeu que a questão tem de ser analisada começando de outro ponto de vista: a da organização dos espaços públicos, sendo que os jardins e outros espaços têm de ser construídos tendo em vista o uso de soluções que não requeiram o uso dos herbicidas, encontrando alternativas “como arbustos que tapam o terreno” e “concentrando-se nas espécies algarvias e mediterrânicas que requerem menos água” e que se deveria acabar com os relvados que “precisam de mais água precisamente quando não chove”. Os jardins, disse ainda Fernando Pessoa, têm que ter também em conta que cada vez há menos mão de obra e menos água e “têm que se adaptar à realidade”.
Com este tipo de jardins, haveria menos ervas, logo menos necessidade de herbicidas. No combate ao glifosato, todas as alternativas são válidas, consideraram os presentes. Até mesmo, como disse Carlos Cabrita, representante do BE na Assembleia Municipal de Silves e moderador desta sessão, a ideia de que “as ervas são bonitas”, e que, assim sendo, não é necessário “ver uma erva e ir logo matar”.
No final, a conclusão evidente: esta é uma discussão que se irá prolongar nos próximos tempos, a nível nacional e internacional, mas “há sinais positivos” na defesa da saúde humana, animal e do meio ambiente. Em França e Espanha foi proibido o uso do glifosato na agricultura e por cá não é usado nos espaços verdes do Porto. Um exemplo que deveria ser seguido pelas autarquias portuguesas, ficando o apelo dirigido à Câmara de Silves.

Nota: Já depois deste encontro, a AMAL manifestou a sua rejeição pelo uso de herbicidas contendo glifosato, com a aprovação da moção “Por um espaço público livre do carcinogênico glifosato”, de iniciativa do Bloco de Esquerda.

“A iniciativa foi apresentada pelos deputados Carlos Martins e Marcos Quitério na Assembleia Intermunicipal do Algarve e contou com os votos favoráveis de todas as forças políticas com representação no órgão intermunicipal à exceção de 16 deputados do PSD, que se abstiveram.
Assim, a AMAL rejeita o uso de herbicidas contendo glifosato e recomenda ao órgão executivo da AMAL – Conselho Intermunicipal – que adote uma posição de defesa do espaço público livre de glifosato, que inste junto do Governo pela proibição do uso e comercialização de herbicidas contendo aquela substância e que promova medidas de divulgação que contribuam para a a adaptação da agricultura para regimes sem glifosato e para regimes de proteção integrada. Foi também recomendado que, em articulação com as autarquias, sejam promovidos espaços públicos sem glifosato e livres de herbicidas”, informa o BE.

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