Li, em concordância, as palavras de Paula Bravo, directora deste jornal, que reflectiam alguma perplexidade sobre um certo balanço entre o acesso a temas regionais e outros de cunho nacional ou global. É uma questão pertinente mas também é verdade que a imprensa das regiões (ou similar) não parece ter vocação para se comprimir, embora com lucidez, apenas sobre assuntos, os mais diversos, locais, individuais, de costas voltadas para o mundo inteiro. Na contemporaneidade, isso já não tem sentido ou não é mesmo possível.
Com os seus defeitos e as suas virtudes, os fenómenos colectivos da globalização envolvem grandes regiões do planeta — por razões da história e da cultura, de etnias e tradições, mas entretanto nas complexas vias de compra e venda de mercadorias ou engenhos, na constante relação de informações, noticiários de todo o lado que a tecnologia trouxe do outro lado do mundo ao recanto das nossas casas.
Isto não exclui a atenção para os problemas estritamente locais. Problemas que, muitas vezes, por defeitos de personalidades individualistas, são bloqueados na discussão, no tratamento judicial, em longos processos de valoração e decisão.
A verdade é que, na antiguidade, sobretudo na parte norte do nosso país, as aldeias comunitárias partilhavam os seus bens e as suas decisões. O gado era levado às pastagens e tratado em regime de rotação por vários pastores. Os géneros cultivados e trabalhados de forma idêntica, havendo um grupo de anciãos que, nos tempos combinados, reuniam a população trabalhadora, faziam o balanço das tarefas conseguidas e da sua evolução (em consenso com interesses comuns de outras aldeias) a fim de entregas a organismos de compra e distribuição, vigilante na região, trabalhando com todos a resposta às necessidades, avaliação dos produtos, gestão dos ganhos e de novos investimentos.
Esta é hoje uma questão fulcral a todos os níveis. Os jornais de Concelho ou Provinciais não podem, ou não devem, tendo em conta a integração dos seus concidadãos nas trocas e mobilidades dentro do país — ou mesmo a nossa relação internacional, alienar a relação entre nações. Há hoje, cada vez mais, necessidades técnicas e tecnológicas, sociais e políticas, que implicam o desenvolvimento das mais pequenas unidades de população com as grandes concentrações humanas. Se isso decorre melhor ou pior (a História vai analisando, bem como a sociologia e outras ciências) isso já é outras coisa.
Há uns anos atrás, uma mulher cristã, que trabalhava numa plantação n Paquistão, sentiu sede e foi a um poço próprio beber uma concha de água. Ali perto, duas mulheres muçulmanas protestaram pelo gesto, argumentando que o copo de um maometano não pode ser usado por um cristão. Queixando-se a um capataz qualquer, este simples gesto humano, partilhável, foi condenado e a mulher punida.
É um caso exemplar das distâncias entre as pessoas, mesmo na base de simples ideias quotidianas.
Podemos gostar mais ou menos do estilo de vida em Portimão (foco em paralelo com a população de Messines). Mas essa diferença na análise do gosto justificará desprezo ou desinteresse pelas actividades comerciais ou culturais desencadeados num local ou noutro?
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