Urgências

Faro, 1 de março de 2016, 15 horas e 32 minutos.
Tenho o telemóvel pessoal a tocar. É a minha sobrinha que está com uma enorme dor de cabeça e mais de trinta e oito graus de febre. Neste momento já se encontra em casa da minha mãe (terça-feira é um dia de aulas) e sente-se impotente sem saber o que fazer e/ou onde se dirigir. Digo-lhe para ela esperar por mim, numa hora estarei em Silves. Termino intempestivamente as minhas atividades laborais, tudo neste momento pode esperar para o dia seguinte.

Silves, 1 de março de 2016, 16 horas e 35 minutos.
Encontro-me no Centro de Saúde de Silves com a minha sobrinha queixando-se de uma forte dor de cabeça (desde da manhã desse dia) e um prolongado estado febril. O Centro de Saúde de Silves encontra-se praticamente deserto, dois ou três funcionários administrativos e um ou dois utentes, naturalmente na zona de atendimento ao público. Somos atendidos por uma funcionária de balcão que nos informa que só temos consulta pelas 18 horas e 45 minutos. Questiono o que fazer, faltam sensivelmente duas horas para ela ser atendida. A referida funcionária sugere que regresse a casa e que volte ao Centro de Saúde no horário previsto (duas horas depois). Argumento que não pode ser, a jovem está cada vez pior e não é admissível esperar duas horas por uma consulta. Informam-me que o Centro de Saúde de Silves não tem urgências, que em caso urgente devo ler a informação da folha de formato A3 colocada no tampo do balcão. Considerando que estou a falar com uma funcionária, solicito-lhe informação sobre a comunicação emitida na referida folha de papel, enquanto desvio o olhar e rapidamente leio que em caso de urgência devo deslocar-me a Albufeira ou a Portimão. Solicito uma prova de como estive no Centro de Saúde de Silves para consulta e que apenas terei a mesma duas horas depois (numa normal tarde de terça-feira). Não me querem passar qualquer documento com a informação desejada. Após alguma tensão, decido marcar a consulta para as 18 horas e 45 minutos, com o registo da hora marcada. Desloco-me com a minha sobrinha, no meu próprio carro (felizmente tenho mobilidade), para o Centro Hospitalar do Algarve, Hospital de Portimão.

Portimão, 1 de março de 2016, 16 horas e 55 minutos.
Chamam a Catarina para o rasteio, tem 38,2 graus de febre. Sinalizam-na com pulseira amarela, urgente. Os estados febris atingiram os 40 graus, realizou um conjunto significativo de exames, o diagnóstico foi uma virose, foi medicada e saímos do centro hospitalar já passava das 21 horas e 30 minutos, após um atendimento gratuito de cinco estrelas, considerando o contexto das urgências hospitalares.
Questiono a adequação do serviço médico em Silves, a formação dos funcionários para atendimento dos utentes, por princípio já desalentados, e o mistério da inexistência de consultas numa tarde de terça-feira, dia de normal laboro. Felizmente, usufruímos no Hospital de Portimão de um elevado profissionalismo de quem defende um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde.

Será necessário e urgente assumir a inexistência de um serviço médico em Silves!

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