O mundo é Angola

Recentemente, um jornal dizia que Luanda é a cidade do mundo em que o mercado imobiliário mais tem aumentado de preço. Hoje em dia, arrendar ou comprar casa em Luanda é mais caro do que em Londres.
Um indicador que contrabalança com o da mortalidade infantil, sendo Angola um dos piores países nesta matéria. O indicador da mortalidade infantil permite que sejam avaliados aspectos do país em questão e, consequentemente, que se meça o seu grau de desenvolvimento. Por exemplo, podemos concluir rapidamente que as condições da saúde angolana são precárias e que o subdesenvolvimento do sistema de saúde ajuda a que os números do indicador sejam agravados.
Mas Angola é um país de contrastes, contrastes económicos e humanos, que fazem com que a desigualdade entre pobres e ricos seja das piores do mundo. Um país que tem uma das pessoas mais ricas do mundo é também aquele que deixa morrer mais fetos.
Não consigo deixar de pensar no caso da Líbia, e em como Khadafi foi aliado do Ocidente durante décadas, enquanto que dentro das suas fronteiras exercia um reinado de tirania e de totalitarismo, tal e qual o exemplo angolano da actualidade, em que é de conhecimento geral a falta de oposição ao regime de José Eduardo dos Santos, e o regime de terror que tem sido imposto a quem se opõe. O regime angolano vai-se manter enquanto for proveitoso para o Ocidente mantê-lo, enquanto o mercado emergente dos novos ricos angolanos ajudar as economias europeias e a sede de petróleo da Ásia não for saciada. Os novos ricos em Angola talvez representem os tais 1%, que fazem descair a balança onde do outro lado estão os restantes 99%, que continuam a viver abaixo do limiar da pobreza e em condições atrozes.
Na geopolítica vale tudo: os interesses de um país em relação a outros é que ditam as regras, e Angola tem muito petróleo, muitos diamantes, demasiados para que o Ocidente consiga pensar com clareza sobre a real política interna angolana.

Porque o totalitarismo come os recursos da Terra, consome as pessoas até ao osso, tudo isso em prol dos 1% que interessa sustentar com luxo e regalias.

Angola é só um terrível exemplo da realidade africana (pode-se enumerar tantos outros), mas, mais do que isso é um reflexo do mundo, da insustentabilidade do modelo que nos venderam durante tantos anos. Os 99% são como formigas numa engrenagem gigantesca que sustenta os 1%. Aí está, a desigualdade, a causa de todos os problemas das sociedades humanas, mas não é qualquer desigualdade, é aquela que dói, que mata, que morre à fome enquanto há caviar na mesa de tantos, esse sim é o problema.

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