Nos Paços do Concelho, em Silves, encontra-se patente, até ao final do mês de dezembro, a Exposição do Arquivo Municipal com o tema “ 130º Aniversário do nascimento de Julião Quintinha “.
A exposição é acompanhada de fotografias e documentos.
130º Aniversário do nascimento de Julião Quintinha
Jornalista e escritor, Julião Quintinha foi uma figura ilustre da comunidade silvense bem como um dos grandes vultos da literatura e do jornalismo, que marcou o século XX em Portugal.
Nasceu em Silves, a 19 de dezembro de 1885. Filho de José António Quintinha, rolheiro, natural da freguesia de Alcantarilha, e de Maria Firmina, costureira, de Porches, residentes em Silves, provém de uma família modesta que não possuía recursos para financiar os seus estudos, para além da instrução primária. Bastante jovem começou a trabalhar como operário, numa das fábricas de Silves, e mais tarde aprendeu o ofício de alfaiate, abrindo um estabelecimento na cidade. Todavia, enquanto operário que conheceu o trabalho físico e duro, encontrou tempo para cultivar o espírito, ansioso de saber e de conhecimento.
Em 1907, com 21 anos, casou civilmente com Aurelina Santana, de Silves, tendo assistido ao enlace ilustres figuras republicanas, nomeadamente Mascarenhas Gregório. Deste casamento resultaram dois filhos: Mário Santana Quintinha e José Santana Quintinha.
Interessou-se pela política e defendeu as ideias republicanas e as revindicações operárias, demonstrando grande esperança no novo regime, defendendo a sua implantação e fazendo propaganda e participando em comícios.
Ainda jovem iniciou as suas atividades jornalísticas publicando, em 1909, o jornal Chelbe, que só teve um único número. Dois anos mais tarde, juntamente com Henrique Martins, fundou e dirigiu o jornal Alma Algarvia, onde defendia os ideais democráticos e defesa das classes trabalhadoras.
Ao longo da vida, colaborou em quase todos os periódicos do Algarve: O Aldeão, Ecos de Loulé, Folha de Alte de Loulé, Jornal de Portimão, O Messinenses, O Povo de Silves e A Rajada de Silves, Foz do Guadiana e Jornal do Algarve de Vila Real de Santo António e o Jornal de Lagos, sendo também correspondente de órgãos republicanos de Lisboa.
De 1912 a 1914 foi Administrador Interino do Concelho de Silves, nomeado pelo governo republicano. Em dezembro de 1913 tomou posse como Secretário interino da Câmara de Silves. Um ano depois, passa a Chefe da Secretaria da Câmara, nomeado por concurso público. Aí se manteve até 1920, altura em que se demitiu e se fixou em Lisboa, dedicando-se totalmente ao jornalismo.
Julião Quintinha foi um dos mentores da realização do I Congresso Regional Algarvio, realizado em 1915, no Casino da Praia da Rocha, em Portimão, onde apresentou a tese-estudo intitulada “Assistência à Mendicidade”, manifestando preocupações sociais sobre a mendicidade e a sua assistência no Algarve. E, trinta e seis anos depois, pertenceu à Comissão Executiva do II Congresso Regional Algarvio que decorreu em Lisboa, em 1951, apresentando duas teses: “A indústria corticeira no Algarve” e “Turismo no Algarve”.
No ano de 1916 publicou o livro “A Solução Monárquica” do Senhor Alfredo Pimenta, e em 1917 publicou No fim da Guerra… (Um Sonho).
Com a sua ida para Lisboa, em 1920, ingressou no jornalismo como profissional colaborando nos principais periódicos da capital, como O Século, Diário da Tarde, O Diabo, Diário Popular, República, Actualidades e outros, e também cooperou nas revistas Cultura e Revista do Algarve.
Foi chefe de redação do Diário da Tarde, Diário da Noite e Jornal da Europa e subchefe da redação do jornal República.
A sua colaboração estendeu-se a jornais do Brasil (Tribuna, de Santos), de Moçambique (Diário de Notícias de Lourenço Marques) e de Angola (Província de Angola), bem como em periódicos de diversas localidades do país.
Enquanto jornalista e ficcionista produziu algumas obras de ficção como Vizinhos do Mar (1921) e Terras de Fogo (1923), que obtiveram bastante sucesso, bem como Dor Vitoriosa – Novela Vermelha (1922) ou Cavalgada do Sonho (1924).
Em representação do Jornal da Europa visitou a Europa e, em 1925, a África. Percorrendo, durante dois anos, o Continente Africano visitou as colónias portuguesas e vários países. Nessa altura começou a debruçar-se sobre questões africanas e coloniais escrevendo dezenas de crónicas e reportagens, que combinam impressões de viagem com comentários de carater histórico e sociopolítico, e recolheu material que posteriormente utilizou nos seus livros: África Misteriosa (1928) que recebeu o 2.º prémio do Concurso de Literatura Colonial da Agência Geral das Colónias, Oiro Africano (1929) que conquistou o 3.º prémio e A Derrocada do Império Vátua e Mousinho d’Albuquerque (1930), escrito em parceria com Francisco Toscano, que obtém o 1º prémio.
Da vasta bibliografia deste silvense consta ainda a obra Terras de Sol e da Febre, publicada em 1932, no género de reportagem em colónias estrangeiras, uma coletânea de estudos literários intitulada Imagens de Actualidade e a obra Novela Africana, onde ressalta a preocupação com o problema colonial nos espaços narrativos de Angola, Guiné, Moçambique e S. Tomé e Príncipe, ambas publicadas em 1933.
Enquanto jornalista foi um defensor da sua classe, desdobrando-se entre o jornalismo e a atividade sindical onde foi eleito por diversas vezes para diretor e presidente do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa a que se seguiria a Casa da Imprensa.
Conhecido como opositor ao regime político do Estado Novo acabou por sofrer alguns dissabores com a polícia política (PIDE) que lhe movia apertada vigilância e algumas situações desagradáveis. Apoiou as candidaturas goradas de Cunha Leal e de Ferreira de Castro, em 1958, antes de se confirmar a candidatura de Humberto Delgado.
Em abril de 1956 Julião Quintinha foi homenageado com um jantar promovido pelos seus amigos e camaradas do jornal República onde é distinguido como “homem de uma extraordinária bondade, camarada lealíssimo, jornalista dos melhores e escritor de grande projecção e fina sensibilidade” e também “homem direito, bom, generoso, idealista dos mais puros e de uma tão impecável e nobre linha vertical”.
Quintinha faleceu na manhã de 23 de julho de 1968, em Lisboa, de doença que o cingia há algum tempo.
Dois anos após a sua morte, na reunião da Câmara Municipal, realizada em setembro de 1970, foi deliberado mediante proposta do Presidente da Câmara, Salvador Gomes Vilarinho, “conceder ao arruamento situado entre a Rua Serpa Pinto e o Largo da Feira, em Silves, o nome de Julião Quintinha”.
O grupo dos Amigos de Silves pediu, em 1973, a “cedência do Salão Nobre do edifício dos Paços do Concelho para a realização de sessão solene de homenagem a Julião Quintinha, e bem assim, que esta Câmara convide o sr. Governador Civil para presidir à sessão solene em que serão oradores os srs. drs. Joaquim Magalhães e Garcia Domingues, e ainda, que seja colocada placa com o nome de Julião Quintinha na Rua de Silves à qual foi oportunamente dado o seu nome”. A Câmara deliberou, por unanimidade, “satisfazer a todos os pedidos formulados e acabados de referir”.
Na reunião da Comissão Administrativa do Concelho de Silves, realizada a 4 de dezembro de 1974, sob presidência de João Ventura Duarte, foi deliberado atribuir o seu nome a uma artéria da povoação de Tunes, por sugestão formulada por elementos da população de Tunes-Gare “dar ao arruamento que entronca a nascente com a Rua Eng.º Duarte Pacheco o nome de Julião Quintinha”.
O nome de Julião Quintinha também foi consagrado na toponímia de outras cidades, nomeadamente na cidade de Lisboa e de Beja.
Com a atribuição do seu nome a várias artéria foi perpetuado o nome de Julião Quintinha, um notável e ilustre filho da cidade, sempre em contacto com o povo, político republicano veemente, escritor da mais fina tempere, jornalista vivo, arguto, incansável e do mais alto estilo, defensor extremo do Ultramar Português.
Bibliografia
MARREIROS, Glória Maria, Quem Foi Quem? : 200 Algarvios do Séc. XX, Edições Colibri, Lisboa, 2000
http://arepublicano.blogspot.pt/2010/07/juliao-quintinha.html
http://literaturacolonialportuguesa.blogs.sapo.pt/2497.html