Traições

Vivemos, de facto, tempos históricos!

Pela terceira vez na nossa história democrática tivemos de pedir ajuda internacional para prover às nossas necessidades. Fomos sujeitos a medidas de grande dureza e, no termo do prazo previsto, conseguimos, enquanto país mostrar que somos credíveis, honestos e cumpridores dos nossos acordos. Mostramos a todos que somos capazes de, enquanto nação, de resolver os nossos problemas. Logo este foi um bom facto, que depõe a nosso favor.
Porém, o momento é histórico por outro singelo facto da nossa democracia. A coligação PSD/CDS conseguiu obter mais votos que cada um dos outros partidos que se propôs a eleições. Verdade que deixaram de ter a maioria absoluta dos mandatos conferidos pelos portugueses, no entanto, esse sinal, no meu entender, apenas quis dizer que os portugueses continuam a acreditar na coligação que nos governou, porém têm de se entender com os outros partidos. Os portugueses não quiseram maiorias absolutas, querem diálogo entre os partidos. Esta, no meu modesto entender seria a grande conclusão destas eleições.
De notar que, durante toda a campanha PS, BE e CDU (coligação PCP e PEV), lutaram em duas frentes distintas: uma contra o PSD e o CDS (tentando demonstrar que havia outra solução); e outra contra os outros dois partidos à esquerda (mostrando à sociedade que entre os três partidos da esquerda apenas havia uma série intransponível de diferenças entre os três partidos).

Porém, na noite das eleições tudo mudou. O cheiro a poder depressa fez esquecer as intransponíveis diferenças, para deixar claro que estavam todos juntos contra a coligação PSD/CDS. A idiossincrasia de cada partido era indiferente, porque todos tinham um objectivo comum, derrotar o PSD e o CDS. Dito de uma maneira muito simples, o povo não me quis a mim, mas eu, junto com mais dois, que também não tiveram a maioria dos votos, somos mais que os dois que ganharam. Até ontem não se podiam ver, hoje são os melhores amigos, não porque tenham algo em comum, mas porque querem destruir o outro. Parece-me um bom princípio de caminhada.

De facto, algures neste momento histórico, vamos assistir a uma traição descarada e despudorada: Ou um dos três partidos vai trair os outros dois, o que não será surpreendente, ou dois partidos (BE e CDU) vão trair o seu eleitorado. E aí talvez o BE o faça com mais classe e prestígio seguindo o brilhante exemplo do inspirador Syriza grego.
São tempos históricos que vivemos. De hoje em diante, nenhuma maioria o será se não for absoluta. Apaguem da legislação as moções de censura, as moções de rejeição e as de confiança. São inúteis! Quem governa não faz pontes com a oposição, quem governa manda sem olhar para o outro. Quem manda, manda bem! Roçamos a filosofia da ditadura.
Ou seja, sempre que a oposição, seja ela qual for, estiver em maioria quem ganhou não deve ser governo.

Seja como for, creio que a população vai ficar contente, pois a crise acabou, a austeridade vai dar lugar à prosperidade e as nuvens escuras dissipar-se-ão como por magia, a esquerda unida vai trazer de volta a joie de vivre a Portugal. Ou talvez não, e daqui a um ano o admirável governo estará destruído (por colapso interno) e nós estaremos, não no ponto onde estamos hoje, mas bem mais atrás. Com sorte no ponto de partida do longo ano de 2011.
Em face deste novo cenário e enquadramento político, pergunto-me se a Dr.ª Rosa Palma, deveria ser Presidente da Câmara? Pois não tem maioria absoluta.

Já que estamos em Silves tenho outra pergunta: já há relatório da Feira Medieval de 2015? Pelo tempo de espera (dois meses) o relatório deve estar a ser feito com todas as “cautelas” e empenho.

Votos de uma boa Feira e melhor São Martinho.

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