Centenário da morte de Francisco Xavier de Ataíde Oliveira

Nos Paços do Concelho, em Silves, encontra-se patente, até ao final do mês de novembro, a Exposição do Arquivo Municipal com o tema “ Centenário da morte de Francisco Xavier de Ataíde Oliveira “. A exposição é acompanhada de fotografias e documentos.
Como habitualmente, o Terra Ruiva colabora com esta iniciativa do Arquivo Municipal publicando uma versão reduzida do texto da exposição. A versão integral está disponível no nosso site.

Francisco Xavier d’Athaide Oliveira nasceu em Algoz, concelho de Silves, a 2 de outubro de 1843, e faleceu, aos 72 anos de idade, na noite de 20 de novembro de 1915, em sua casa, em Loulé.

Desde cedo que Francisco Xavier mostrou vocação para a vida eclesiástica tendo-se matriculado, ainda com 17 anos, no Seminário de S. José de Faro, fazendo a vontade ao pai que era sacristão no Algoz. Em 1866 termina o curso religioso. Para receber os votos foi estudar para Coimbra, no Colégio de S. Bento. Aos 25 anos, o Bispo do Algarve, concedeu-lhe a Ordem de Presbítero.

No ano letivo de 1869/1870 matriculou-se na Universidade de Coimbra em dois cursos superiores, em Direito, que concluiu em 1874, e Teologia, que terminou em 1875. Com a conclusão das licenciaturas regressou ao Algarve, escolhendo a vila de Loulé para residir.
Indeciso entre o sacerdócio ou a advocacia acabou por ficar com a banca de advogado do seu amigo Marçal Pacheco, em Loulé. Todavia desistiu destas funções e dedicou-se ao sacerdócio, concorrendo a todas as paróquias disponíveis no Algarve. Não conseguiu ingressar em nenhuma e para tal não seria alheio o seu espirito liberal uma vez que nunca usou a batina sacerdotal, vestindo-se à civil. A partir desta altura desempenhou atividades relativas à sua formação jurídica mas manteve as suas obrigações como sacerdote, passando a ser conhecido como o “padre à civil”.

Com 42 anos, torna-se o Conservador Privativo do Registo Predial da Comarca de Loulé. É neste período que começa a ter disponibilidade para se dedicar aos estudos e investigações sobre o passado algarvio e recolha das tradições orais.
Para a recolha da literatura oral e popular, nomeadamente crenças, lendas e tradições, canções e contos, ladainhas, rezas e mezinhas, superstições, pragas e maldições que compunham o universo do imaginário das gentes algarvias passou a conviver com o povo simples, oriundo das aldeias e lugares situados na serra algarvia, que desciam à sede de concelho para frequentar o Mercado Municipal e venderem os frutos do seu trabalho.
Em 1889, fundou e dirigiu, juntamente com Joaquim Teixeira, o primeiro Jornal de Loulé “O Algarvio”, que divulgava os ideais do Partido Regenerador mas também continha artigos que davam a conhecer alguns dos seus estudos sobre o passado algarvio.
Colaborou em diversos periódicos algarvios, desde Lagos até Vila Real de Santo António, publicando em forma de folhetim as “estórias”, lendas e contos de cariz popular, ganhando assim enorme prestígio como jornalista e investigador.
Foi autor de várias obras de vulto, tendo editado quase todos os anos um livro. O primeiro livro publicado data de 1897, Contos Infantis, destinados às meninas e meninos. O sucesso desta publicação foi bastante notável .

Da sua produção etnográfica destaca-se a obra As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve, editada em 1898, considerado o seu primeiro ensaio sobre tradições populares, lendas e superstições.
Em 1900, publicou o 1º volume de Contos Tradicionais do Algarve e cinco anos depois, o 2º volume. A obra seguinte, Biografia de D. Francisco Gomes do Avelar, Arcebispo do Algarve, publicada em 1902 e dedicada à memória de seu irmão, João Xavier de Ataíde, falecido em 1901, é uma obra de grande interesse para o conhecimento da vida do prelado e da sua época, no período da reconstrução dos templos da diocese após o terramoto de 1755 bem como o conturbado período da primeira invasão francesa no Algarve.

Em 1905 edita o Romanceiro e Cancioneiro do Algarve, subintitulado Lição de Loulé, dedicado à sua irmã Ingés Bernarda.
Neste mesmo ano iniciou a sua fase de monografista, consagrando a onze diferentes localidades algarvias importantes estudos monográficos histórico-geográficos, cobrindo quase todo o território da região. Em 1905 editou a Monografia do Concelho de Loulé, a que se seguiu a Monografia do Algoz, dedicada à sua mãe Francisca Xavier. No ano seguinte a Monografia do Concelho de Olhão da Restauração, e em 1907 a Monografia de Alvor. Em 1908 publica a Monografia do Concelho de Vila Real de Santo António, tal como a obra Memórias Eclesiásticas do Bispado do Algarve. Em 1909, publica a Monografia de São Bartolomeu de Messines, seguindo-se em 1910 a Monografia de Paderne, em 1911 a Monografia de Estômbar, em 1912 a Monografia de Porches e em 1913 a Monografia da Luz de Tavira, encerrando-se em 1914 com a Monografia de Estoi.

Em 1902 foi admitido no Instituto de Coimbra e em 1911 é eleito sócio da Academia de Ciências de Lisboa.
Em 1905 os habitantes do Algoz propõem uma singela homenagem a este seu conterrâneo, com um pedido à Câmara Municipal para a atribuição do seu nome a uma rua da povoação. Na sessão do dia 10 de abril de 1913 é apresentado um “Oficio do Dr. Francisco Xavier d’Athayde Oliveira, Conservador do registo predial da Comarca de Loulé, oferecendo a esta corporação um exemplar de todos os seus livros, em numero de quinse, um legado d’um seu filho, que embora ausente do seu concelho, nem um momento d’elle se tem esquecido”. A Câmara resolve “agradecer ao Dr. Francisco Xavier d’Athayde Oliveira a oferta das suas obras publicadas que constituem uma gloria literária para este concelho por serem formadas pelo nome illustre d’um seu munícipe e consignar na acta um voto de louvor ao referido Cidadão pela sua honrosa e valiosa oferta”.

Ataíde Oliveira, além de ser um homem singular e talentoso, era muito estimado e reconhecido como uma figura muito notória, respeitado e bem vestido. Em vez da veste sacerdotal, apresentava-se trajando fato de talhe inglês, botas de peliça, relógio de bolso, bengala de castão de prata e chapéu de coco encimando a farta cabeleira banca, fumando charuto percorria no seu passo lento mas firme as ruas da vila, demorando-se à conversa com os lojistas e ilustres cidadãos da terra, e frequentava a Sociedade Recreativa e Comercial de Loulé e o Clube Louletano.
Faleceu no dia 20 de novembro de 1915, em Loulé, rodeado de família e amigos. A notícia da sua morte foi noticiada em diversos jornais e alvo de várias homenagens.

Francisco Xavier de Ataíde Oliveira foi uma figura que marcou indelevelmente a cultura algarvia e segundo as palavras de Vilhena Mesquita “foi sobretudo um compilador do espírito e da alma algarvia nas suas mais diversas vertentes etnográficas. Coube-lhe a perseverante tarefa de reunir e de divulgar em livro as tradições populares, as lendas, as expressões e os sentimentos das gentes algarvias, nas suas mais genuínas manifestações de credulidade religiosa, de inocência e de temeridade, que hoje nos fazem sorrir ou suspirar de saudade, pelo tempo a que já não podemos regressar, mas cuja riqueza patrimonial herdamos minimamente preservada nos seus livros”.

Bibliografia
MESQUITA, Vilhena, O Monografismo Algarvio – O Pioneirismo de Ataíde Oliveira, Revista Arquivo Municipal de Loulé, n.º11, Arquivo Municipal de Loulé, 2006
RIBEIRO, Alice da Silva, Individualidades Notáveis de Silves e de seu Concelho, Câmara Municipal de Silves, 2004
http://www.in-faro.com/bio_ataide_oliveira.html

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